O homem e o mar
Homem livre, o oceano é
um espelho fulgente
Que tu sempre hás de
amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal,
contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu
coração ardente.
Gostas de te banhar na
tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e,
às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar
os gritos doloridos,
As queixas que ele diz
em mística linguagem.
Vós sois, ambos os
dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou
teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém
conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais,
avaros, receosos!
E há séculos mil,
séculos inumeráveis,
Que os dois vos
combateis numa luta selvagem,
De tal modo gostais
numa luta selvagem,
Eternos lutadores, ó
irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire, in
"As Flores do Mal". Tradução de Delfim Guimarães
Fonte: Wikisource
O poema é linda, a imagem é maravilhosa, só falta mesmo conhecer esse tal Sítio do Conde!
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